Fortalecimento da indústria é aposta para a próxima década

Diversificação econômica, logística e infraestrutura são os desafios de Mato Grosso do Sul para os próximos anos. O Estado comemora 42 anos hoje e ainda enfrenta muitos percalços rumo ao desenvolvimento, mas os agentes do poder público estão otimistas. O crescimento das indústrias somado à expansão do agronegócio é a aposta do Executivo estadual.

De acordo com o governador Reinaldo Azambuja, o governo investe em todas as regiões do Estado. “Cada uma de acordo com a sua especificidade. São investimentos que garantem infraestrutura para escoar as safras recordes, atrair investimentos privados e gerar empregos, sem esquecer da qualidade de vida da população. Temos uma alegria enorme de estar tocando projetos extremamente positivos, como a Rota Bioceânica, fazendo projetos estruturantes para o desenvolvimento, para escoar a nossa produção, atrair indústrias e o desenvolvimento. É isso que precisamos fazer”, explicou.

Para o titular da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar (Semagro), Jaime Verruck, é preciso olhar para o futuro. “Qual Mato Grosso do Sul que nós queremos para os próximos anos? Pelo menos, o governo, dentro da sua estratégia, caminha para uma diversificação da base econômica. Na indústria, além de processar nossas matérias-primas, temos que trazer empresas com cunho tecnológico para cá, inclusive para usar todo o nosso potencial”, disse.

INDÚSTRIA

O secretário ressalta a importância da indústria, da qual o PIB, nos últimos dez anos, cresceu 254%. Uma obra esperada pelo setor industrial é a abertura da Unidade de Fertilizantes Nitrogenados (UFN3) em Três lagoas. Verruck acredita que a geração de empregos com a abertura de novos polos industriais será essencial para o desenvolvimento estadual. “Vamos gerar uma nova matriz industrial para o Estado que é a produção de ureia. Agora, ainda em outubro, vamos inaugurar em Rio Brilhante a nossa primeira fábrica de ureia líquida. Em novembro, vamos inaugurar um investimento de R$ 1 bilhão em uma indústria de processamento de soja em Dourados e, no ano que vem, a reestruturação de uma indústria de soja em Caarapó. A estrutura de armazenagem nesses últimos quatro anos praticamente triplicou”.

Desde 2014, a área plantada do complexo florestal passou de 886.381 hectares para 1.121.919 hectares e, de 2006 a 2018, o volume exportado aumentou 7,4%. A diversificação da exploração do eucalipto, que hoje está focada na celulose e no carvão, é outro ponto abordado. “Nós já temos a segunda posição no Brasil em termos de produção de eucaliptos, somos o primeiro lugar na exportação de celulose de fibra curta no País, com três indústrias instaladas”.

AGRONEGÓCIO

Mato Grosso do Sul começa a diversificar sua base econômica, principalmente, no agronegócio. Além da agricultura e pecuária, a produção de eucaliptos e o setor sucroenergético têm despontado como importantes bases da economia estadual. Conforme dados da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), nas últimas 30 safras de soja, houve aumento de 120% na área, 197% na produção e 35% na produtividade. Nas últimas 30 safras de milho, o crescimento foi de 594% em área, 35% em produtividade e 743% na produção. Nas últimas quinze safras de cana-de-açúcar, a expansão foi de 369,5% na área, 8,3% na produtividade e 402,1% na produção. Nos últimos 10 anos, o rebanho de MS aumentou 1%, os abates cresceram 8%, e a produção, 17,2%.

“Na nossa tradição, que é a pecuária, chegamos a um ciclo curto com semiconfinamento, atingindo padrões de mercado razoáveis, tanto que a carne MS configura como de melhor qualidade. E [o Estado é] o segundo do País em números de abates. O setor sucroenergético hoje tem mais de 800 mil hectares, com 21 usinas colocando uma perspectiva de renovação agora com o RenovaBio. Existe uma tendência internacional de que a gente consiga avançar nessas áreas e sem falar das nossas culturas tradicionais, que são soja e milho batendo recorde neste ano, com a safra de 12 milhões de toneladas na produção de milho. E também o maior crescimento de área de soja em relação ao ano passado”, contextualizou Verruck.

O presidente da Famasul, Mauricio Saito, explica que atualmente os principais gargalos para o setor do agronegócio são a infraestrutura e logística. “Nossa agricultura era costeira até meados do século passado, quando avançou para as fronteiras do Centro-Oeste, do Nordeste e do Norte. Portanto, é preciso que haja continuação dos investimentos em infraestrutura e diversificação no uso de modal de transporte”, explicou.

LOGÍSTICA

O sistema de logística do Estado foi basicamente focado no complexo rodoviário durante os 42 anos, o que implicou uma série de investimentos de pavimentação. Atualmente, o sistema não consegue atender mais ao crescimento das atividades econômicas. “Primeiro, a gente começa a olhar para as hidrovias, que passam a ser um elemento importante. Hoje já temos equipamentos, barcaças adequadas e volume de produtos para reativar. A hidrovia que liga Corumbá ao Uruguai já é uma realidade e com uma mudança significativa de perfil. O governo do Estado fez uma política de incentivo à exportação por meio desses portos fluviais. No caso de Porto Murtinho, temos um porto em operação que vai exportar 800 mil toneladas e outro, que será inaugurado em março/abril, que exportará um milhão de toneladas e já estamos tratando do licenciamento do terceiro porto. Então, Porto Murtinho passa a ser, nos próximos dois ou três anos, um porto de até 4 milhões de toneladas de exportação de soja e milho”, reiterou o secretário.

A reativação da malha ferroviária do Estado é outro ponto abordado como desafio para o desenvolvimento. “Temos uma ferrovia sucateada com nível de operação muito baixo. Ela é fundamental nesse processo logístico de Mato Grosso do Sul.

Nós estamos buscando investidores e uma antecipação da concessão para reabilitar essa ferrovia. Estamos falando de troca de praticamente a totalidade dos trilhos. Temos também uma ferrovia que foi ativada, que é a Ferronorte. Ela passava por MS, não tinha nenhum acesso e hoje nós já temos um terminal em Chapadão do Sul, com previsão de exportação de dois milhões de toneladas para o próximo ano, e em Aparecida do Taboado, de onde hoje saem praticamente 35% da celulose exportada para os outros países”, explicou Verruck.

No setor rodoviário, os principais projetos são a duplicação total da BR-163 e a integração dos municípios. “Temos grandes eixos e, quando você vê novas fronteiras agrícolas de expansão que valem para o eucalipto, para a cana, temos dificuldade em trazer essa produção para os eixos para fornecer para a indústria. Isso implica o investimento em pontes – o governo já fez mais de 100 – e a melhoria dos leitos, não precisa ter asfalto, mas precisamos estruturar essas rodovias”.

“MS será um centro de exportação rumo à Ásia”

Reinaldo Azambuja tomou posse do primeiro mandato em 2015, no auge da crise econômica nacional, e deu início ao segundo mandato em janeiro deste ano. O governador avalia que o pior da crise já passou, que Mato Grosso do Sul cresce acima da média nacional e aposta em investimentos em logística e energia para preparar o Estado para a próxima década.

O que é necessário fazer para que MS caminhe rumo ao crescimento?
Mato Grosso do Sul tem 42 anos, mas é extremamente competitivo e um dos grandes potenciais em desenvolvimento do País. Os rankings mostram isso. Estamos entre os primeiros na geração de empregos. Isso mostra a pujança da economia. Temos um programa, que é o Governo Presente, em que estamos pactuando com as 79 cidades investimentos em todas as áreas: saúde, educação, segurança pública, desenvolvimento, infraestrutura, agricultura familiar. Então, o governo está presente nas regiões, fomentando desenvolvimento em áreas que são estratégicas.

Quais as expectativas para os próximos anos?
No próximo ano, vamos ter um crescimento moderado. Temos um cenário de baixo crescimento no País, mas Mato Grosso do Sul cresce acima da média nacional. Temos que ter equilíbrio dentro da receita e despesa e torcer para a economia ter uma alta maior. Quando assumimos o governo, em 2015, tivemos que fazer o dever de casa: enxugamos o tamanho da máquina pública, reduzindo o número de secretarias; fizemos a reforma previdenciária estadual, que diminuiu o deficit em meio bilhão de reais por ano; instituímos teto de gastos para os poderes; e reduzimos valor de contratos.

Tomando essas atitudes, algumas delas impopulares, conseguimos manter o Estado de pé e fazer esses investimentos para garantir infraestrutura. O governo federal também precisa fazer as reformas estruturantes, uma reforma da Previdência que inclua estados e municípios e uma reforma tributária que simplifique o pagamento de impostos e combata a sonegação. Se isso acontecer, a economia do País vai crescer mais e a de Mato Grosso do Sul também.

Cite ações que visam o desenvolvimento do Estado?
Ainda neste mês, vamos lançar a licitação para criar uma rota alternativa aos terminais portuários de Porto Murtinho, desviando o tráfego de caminhões. O Brasil, nos últimos anos, virou as costas para o Rio Paraguai. Isso está mudando com a construção de três novos portos e a perspectiva de um quarto. Serão mais de R$ 450 milhões de recursos privados injetados em Murtinho, em dois anos, que vão fazer a capacidade de exportação saltar de 460 mil toneladas/ano para 6 milhões de toneladas/ano. Vamos criar uma rota rodoviária estadual de mil quilômetros e integrar os municípios do Pantanal, desde as regiões norte (Sonora, Coxim, Rio Verde e Rio Negro), oeste (Aquidauana, Miranda e Corumbá) e sul (Porto Murtinho), com conexão a Bodoquena, Bonito e Jardim, destinos do ecoturismo.

A criação da Rota Bioceânica será importante no processo de crescimento econômico?
A concretização da Rota Bioceânica vai transformar Mato Grosso do Sul em um hub logístico, um verdadeiro centro de importação e exportação, rumo à Ásia, que é onde estão os grandes consumidores de alimentos. Isso é importantíssimo para a economia não apenas do Brasil, mas de toda a América Latina. A viagem das commodities vai ter um trajeto mais curto em 17 dias, ou 8 mil quilômetros.

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