Cães do MS encontram restos mortais em Brumadinho

Após mais de oito meses do acontecido, o caso do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho ainda passa por desdobramentos. No último domingo (29), o 248º dia de buscas, foi encontrado em meio a destroços e lama o corpo de mais uma vítima do desastre ambiental: o montador Luciano de Almeida Rocha, de 40 anos. O local onde jazia a vítima foi identificado graças ao olfato apurado de Cindy e Duke, cães farejadores do Mato Grosso do Sul responsáveis por captar cheiros imperceptíveis para humanos e direcionar os militares na extensa área de buscas.

No cenário desolador em que a lama espessa cobre mais de 290 hectares e em alguns pontos atinge profundidade de até 15 metros, o trabalho das duplas formadas por cães e humanos tem desempenhado papel essencial, sendo responsáveis por localizar cerca de 80% dos corpos soterrados. Ao longo do trabalho de resgate que já se estende por meses, equipes de salvamento de todo o país foram enviadas para auxiliar nos serviços. Na última quinta-feira (26), foi a vez do Mato Grosso do Sul, que enviou à cidade mineira três bombeiros e dois cães do 5º Subgrupamento de Bombeiros Militar Independente (5º SGBM/Ind), unidade da cidade de Coxim.

Os trabalhos no local foram divididos em 22 frentes, com ao todo 147 bombeiros e dois cães, que atuam em áreas também segmentadas para auxiliar o serviço. Após quase um mês sem encontrar novos restos mortais, as buscas indicaram a presença de um corpo soterrado a 2,5 metros de profundidade, a cerca de seis quilômetros do ponto de rompimento da barragem. No sábado (28), uma das frentes trabalhava na área denominada como ‘Remanso 4’ quando identificaram a presença de um coturno com seguimento ósseo humano. Os bombeiros que encontraram o vestígio acionaram as equipes sul-mato-grossenses, que foram direcionadas para o local para realizar varreduras. Através de latidos e mudança de comportamento, os animais demonstraram que havia a presença de restos humanos na região, que foi delimitada. Na manhã do domingo, bombeiros utilizaram escavadeiras para acessar o ponto exato em que estava o homem, identificado na manhã de hoje (30) como sendo Luciano de Almeida Rocha.

As duplas formadas entre cães e homens, conhecidas como binômios, são fixas, e os animais pertencem ao militar que é responsável pela rotina de treinamentos, que incluem identificação olfativa de drogas, explosivos e corpos humanos. A equipe do Corpo de Bombeiros do Estado é composta pelos binômios Major Fábio Pereira e o cão Duke, da raça pastor belga, 3º Sargento Luciclei da Silva e a cadela Cindy, da raça labrador retriever, além do Cabo Wilson Rogério, atuando como auxiliar. Os cachorros, ambos com sete anos de idade, são certificados a nível nacional para exercer buscas por restos mortais, sendo que somente quatro cães em todo o país possuem a certificação.

Segundo o Tenente Coronel Fernando Carminati, coordenador da Defesa Civil Estadual, a situação em Brumadinho exige a atuação com cachorros. “O faro desses animais é muito apurado. Eles são treinados para realizar buscas através de cheiros que humanos não conseguiriam fazer”, explica. Ainda de acordo com o Tenente, a missão deve durar 30 dias, com uma pausa de 15 dias entre o trabalho, quando tantos os bombeiros quando os cachorros devem voltar ao Mato Grosso do Sul para bateria de exames e descanso.

Olfato dos animais é essencial para localização das vítimas restantes (Foto: Divulgação Corpo de Bombeiros MS)

ROMPIMENTO DA BARRAGEM

O rompimento da barragem da Vale, na Mina Córrego do Feijão, completou oito meses no último dia 25. Ao todo, o desastre ambiental deixou 270 vítimas, entre mortos e desaparecidos, além de centenas de desabrigados. Segundo a Polícia Civil de Minas Gerais, foram confirmadas 250 mortes, incluindo da última vítima encontrada, e as buscas seguem para encontrar as 20 pessoas que permanecem desaparecidas.

No momento em que foi localizada a 250º vítima, não foi possível verificar se se tratava de um homem ou de uma mulher. Entretanto, após perícia realizada pela Polícia Civil e identificação através de exame da arcada dentária, no início da noite de domingo foi divulgado que os restos mortais pertenciam a um homem e, na manhã de hoje, o nome da vítima foi divulgado. Atualmente, os bombeiros tentam traçar estratégias para encontrar todos os desaparecidos restantes ainda durante o período de estiagem, já que as chuvas previstas para o fim do ano irão dificultar ainda mais o trabalho de buscas.

No processo que investiga o rompimento da barragem, a Polícia Federal indiciou no dia 20 de setembro sete funcionários da Vale e seis da empresa de consultoria Tüv Süd  por falsidade ideológica e produção de documentos falsos. As investigações apontaram que os funcionários da Vale tinham conhecimento sobre os riscos de rompimento da barragem. Já os empregados da empresa de consultoria seriam responsáveis pelo laudo que atestava, falsamente, a segurança da mesma.

 

Fonte: Correio do Estado

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