Há um ano no EAD, crianças da periferia de Campo Grande ainda esbarram na falta de estrutura para aprender

A pandemia do coronavírus afastou os alunos das salas de aula há um ano e o ensino remoto tem sido a alternativa para que o aprendizado das crianças e adolescentes de Mato Grosso do Sul não seja interrompido. No entanto, crianças que vivem realidades diferentes na periferia de Campo Grande precisam enfrentar barreiras que vão além do interesse e esforço de aprender.

No Jardim Noroeste, entre as crianças que vivem em uma comunidade mais vulnerável é raro quando conseguem enviar as tarefas aos professores. As mães procuram ajuda de vizinhos e muitas vezes o dinheiro extra que entra serve para comprar créditos para o celular para assim, os filhos usarem a internet 3G.

Mãe de cinco filhos, Maria Aparecida, de 34 anos, diz que se esforça para ajudar no ensino das crianças, mas como não conseguiu terminar os estudos, não tem muito o que oferecer de conhecimento aos filhos.

“Eu estudei até a 7ª série. É difícil ensinar eles. Quando tenho dinheiro para o crédito [do celular], nós conseguimos. Eles mandam as tarefas por WhatsApp, mas quando não tenho, levamos a apostila na escola”, de.

A moradora é mãe solteira, chefe do lar e atualmente vive do benefício do Bolsa Família, recebendo R$ 250 por mês para sustentar todos os filhos. Ela comenta que não recebeu o Auxílio Emergencial pois quando conseguiu a aprovação, o benefício foi encerrado pelo Governo Federal.

Apesar do agravamento da crise do coronavírus em todo o Estado, sem ver avanço na educação dos filhos, Maria afirma ser a favor do retorno das aulas presenciais pois, além de tirar as crianças da rua durante o dia, estar dentro da escola é garantia de que os filhos poderão se alimentar.

Um celular para 4 filhos

Na casa de Joyce de Souza, de 30 anos, os filhos precisam se organizar para dividir um único aparelho celular para fazer as atividades da escola. Mãe de 4 filhos, a moradora diz que na maioria das vezes não tem acesso à internet e o dinheiro para colocar crédito no celular acaba porque há oas prioridades na família, o alimento é a principal.

“Não tenho dinheiro para ficar colocando crédito. De verdade, não estão aprendendo nada. Passaram de ano sem saber nada. Minha filha está na terceira série e não sabe ler e nem escrever”, de a manicure.

Joyce afirma que no último ano tem sido ‘apertado’ a situação financeira e com as crianças em casa, os gastos com a alimentação têm sido mais difíceis.

Em uma região menos carente do bairro, Leirelane Silva, de 27 anos, mora com os três filhos. Ela diz que o filho mais velho, de 11 anos, é esperto e aprende rápido os conteúdos, mas o mais novo, de 7, tem sofrido para absorver o ensino remoto. “Ele não sabe nem as vogais, só sabe contar até dez. Querendo ou não, tem coi que a professora passa que nem eu entendo. Teve mãe que nem entregou a primeira apostila”, de.

A moradora afirma que o número de crianças nas ruas do bairro cresceu durante a pandemia. “Os pais saem para trabalhar e as crianças vão para a rua. Antes não tinha”, afirmou.

Adriana Ferreira, de 34 anos, de que durante o último ano tem ajudado a vizinha com a filha, que tem 10 anos. Na casa ao lado, a criança não tem acesso à internet e recolher a ajuda da moradora tem sido a solução. “Como a minha filha tem a mesma idade e está na mesma série, dá para ajudar”, pontuou.

Kit merenda

Nesta semana, a  (Secretaria Municipal de Educação) informou que apesar de paralisação de atendimento presencial das escolas municipais em razão do agravamento da pandemia, cronograma para entrega do kit merenda, um auxílio oferecido pela prefeitura que socorre famílias carentes, deve ser divulgado em breve.

No ano passado, quando a entrega do kit merenda foi instituída pelo município, 20 mil famílias de baixa renda foram cadastradas para garantir o mínimo de alimentação para crianças que ficaram sem aulas presenciais.

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