Cercas para evitar mortes de animais na BR-262 são instaladas, mas motoristas questionam

Para quem decidir visitar a região do Pantanal sul-mato-grossense nos próximos dias irá se deparar com trecho da BR-262 totalmente fechado por cercas e alambrados nas laterais da rodovia. A instalação dos materiais foi feita pelo DNIT-MS (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) e está gerando questionamento dos motoristas que passam pelo local. A estrada é conhecida nacionalmente como a ‘estrada da morte’ pois é letal a vida dos animais silvestres e já chegou a ser apontada como uma das mais perigosas do mundo para a vida selvagem, segundo o The New York Times.

Conforme a Superintendência Regional do DNIT em MS, a instalação das cercas foi decidida após uma pesquisa do IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), que avaliou necessário colocar os alambrados nos trechos onde mais ocorriam atropelamentos da fauna pantaneira.

Nas redes sociais, a instalação da cerca ao longo da rodovia levantou dúvidas sobre a sua eficiência. “Um absurdo, refletindo a distância entre a engenharia e a biologia. Não era para ser assim. Não sei de quem foi o palpite adotado pelo DNIT, mas vai contra tudo o que indicaria o bom senso”, diz internauta em postagem que já conta com 60 comentários e 80 compartilhamentos.

O morador de Corumbá, Capital do Pantanal, ainda comenta que a medida pode prejudicar os animais, pois se algum conseguir atravessar a cerca, que tem pouco mais de um metro de altura, ficará preso entre os carros que passam nos dois sentidos, acuado, sem ter ‘para onde correr’.

Outra questão levantada pelo morador, é de que a tela usada na instalação é extremamente fina e frágil para o que está sendo proposto pelo DNIT-MS e, se por alguma falha a cerca se soltar, poderá ser uma armadilha aos animais.

“Animais incapazes de pular o alambrado para fora da estrada são anta, capivara, queixada, caitetus, jacarés, lobinhos, entre outros. Basta uma falha e a armadilha passa a funcionar. Prejuízo material garantido para donos de veículos, risco de vida é certamente mortes de animais silvestres”, diz trecho da publicação no Facebook.

Foto: Reprodução/FacebookEm nota, o DNIT-MS disse que a medida foi feita para reduzir o número de acidentes envolvendo animais silvestres. Ao todo, são oito pontos da rodovia que devem receber a instalação das cercas.

“A localização dos equipamentos foi definida pelo IBAMA, através de Parecer Técnico. As cercas serão
instaladas em pontos e segmentos contínuos, onde verificou-se uma maior incidência de atropelamento
de fauna e a instalação das 2 (duas) passagens superiores de fauna serão feitas nos km 734 e 755, como
medida mitigadora do atropelamento do sapajus cay (espécie de macaco-prego)”, disse trecho da nota.

A reportagem ainda entrou em contato com a assessoria de imprensa do IBAMA pedindo detalhes da pesquisa que resultou na medida e aguarda reposta.

‘Estrada da morte’

Em dezembro de 2018, o MPF (Ministério público Federal) em Corumbá ajuizou ação pública para que o DNIT cumprisse com as medidas protetivas à fauna de animais silvestres na BR-262, no trecho entre Aquidauana e Corumbá. A medida visa proteger os animais e também a segurança no trânsito.

As obras na pista já foram concluídas, no entanto as obrigações assumidas pelo DNIT na Licença de Instalação n° 733/2010 ainda seguem sendo descumpridas.

Em pesquisa da UFMS, é estipulado que, entre atropelamentos reportados e não reportados, o número já ultrapasse 3 mil mortes por ano, que atingem até 88 espécies de animais silvestres, entre elas algumas ameaçadas de extinção, como o macaco prego e o cervo do pantanal.

Medidas que não foram suficientes

O DNIT chegou a promover algumas ações e medidas para tentar diminuir a mortalidade dos animais na BR-262, como a instalação de radares e sinalização horizontal e vertical, como placas nos trechos mais críticos.

No entanto, as medidas não foram suficientes para conter o problema e ainda estão pendentes as obrigações de instalação de cercas para a passagem de fauna e outras medidas previstas na licença ambiental.

Em 18 de junho de 2018, o MPF expediu Recomendação para que o DNIT adotasse todas as medidas necessárias para atender as recomendações do Ibama. O DNIT alegou restrições orçamentárias para o descumprimento. Para o MPF, “não é a simples alegação de ausência de recursos, destituída de qualquer comprovação nesse sentido, ou de outra que corrobore a impossibilidade da aplicação orçamentária na prestação de um direito fundamental, que impeça a implementação deste direito”.

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