Suspeita de morte em motel diz que foi forçada a marcar encontro

Em seu primeiro depoimento a justiça, Fernanda Aparecida da Silva Sylvério, de 28 anos, apresentou uma nova versão dos fatos que levaram a morte de Daniel Nantes Abuchaim, de 46 anos. Na segunda audiência sobre o caso, afirmou que foi perseguida e forçada a marcar um encontro com a vítima pelo verdadeiro assassino do ex-superintendente de gestão de informações do governo do Estado.

Por 50 minutos, Fernanda falou do dia em que Daniel foi morto a facadas em um motel de Campo Grande. Entre crises de choro e afirmações de que o ex-superintendente era seu melhor amigo, a suspeita voltou a falar em um segundo envolvido, que a perseguiu e ameaçou para que ajudasse no crime, detalhes que ainda não haviam sido contados por ela.

Fernanda lembrou que viu o suspeito pela primeira vez no dia anterior, quando estava com a namorada em uma tabacaria. Segundo ela o autor se aproximou e ela “sentiu o olhar de opressão” vindo dele, mas foi embora logo em seguida. No dia 19 de novembro saiu para trabalhar e percebeu que estava sendo seguida por um carro.

Após alguns metros de perseguição, viu que o motorista deu sinal de luz e resolveu parar perto de uma construção, onde estavam alguns pedreiros. Nesse momento, o mesmo homem da noite anterior saiu do carro, mostrou uma arma para ela e com ameaças de morte, pediu para ir até a casa de Daniel.

Em depoimento, Fernanda afirmou que se sentiu um “alvo fácil” para o suspeito chegar ao amigo, mas ainda assim seguiu as orientações, foi à casa de Daniel. Quando chegou, enviou mensagem avisando que estava ali. Daniel atendeu ao chamado da amiga e os dois chegaram a entrar na casa dele.

Mesmo sozinha com ele, alegou que não teve coragem de contar o que estava acontecendo por medo. Juntos foram até o carro de Fernanda, uma Mitsubishi Pajero. Nesse ponto duas versões foram contadas por ela nesta tarde. A primeira de que assim que chegaram ao veículo foram surpreendidos pelo suspeito.

A segunda, e conforme ela a verdadeira, que no carro contou sobre a perseguição e as ameaças e chegou a ouvir que o amigo “já imaginava quem era a pessoa”. O suspeito volta aparecer pouco depois, quando o casal para em um semáforo. “Ele bateu na janela e o próprio Daniel me autorizou a abrir”.

Ela então dirigiu para o motel, seguindo as ordens do “autor”. No caminho, os dois homens discutiram muito, sempre falando de dívidas. Daniel ainda tentava acalmá-la, afirmando que resolveria toda a situação. “Estava com muito medo, nunca vivi isso na minha vida, coisa de filme”.

Daniel foi morto no dia 19 de novembro (Foto: Reprodução Facebook)Daniel foi morto no dia 19 de novembro (Foto: Reprodução Facebook)
Local onde corpo foi encontrado ficou isolado pela Polícia Militar (Foto: Paulo Francis)Local onde corpo foi encontrado ficou isolado pela Polícia Militar (Foto: Paulo Francis)

Chorando, lembrou que apesar de estar com uma arma, o suspeito também andava com uma faca na mão e que foi ele quem orientou a pagar a conta antes e a comprar uma toalha extra. Fernanda afirmou que depois de entrar no motel escondido no carro, o suspeito obrigou Daniel a tirar a roupa e entrar no banheiro.

Apontando a arma para ela, mandou que aumentasse o som e voltou para onde o ex-supreendente estava. Ele teria tentado se defender, mas morreu esfaqueado. Enquanto isso, Fernanda afirma que chorou de joelhos no chão do quarto.

Sozinho, o verdadeiro assassino levou o corpo para o banco da frente. Mais uma vez, seguindo as ordens do suspeito, pediu aos funcionários para que deixassem o portão aberto e seguiu na direção indicada por ele, ouvindo ameaças de que também seria morta.

Na versão apresentada nesta tarde, Daniel teve o corpo jogado do veículo pelo homem desconhecido, que desceu da Pajero poucos metros depois e fugiu. Fernanda reforçou a todo o momento que foi por medo de ser morta que atendeu ao assassino e também fugir para Bonito após o crime. Para isso chegou a pedir dinheiro emprestado para um vizinho.

Questionada sobre a primeira versão do caso, a de que agiu por ciúmes da namorada, alegou que confessou o crime porque apanhou de polícias. “Apanhei muito e não tenho medo de dizer”. Alegou que passou por corpo de delito por conta disso e ainda registrou um boletim de ocorrência pela agressão. “Ele sempre me respeitou muito e sabia que eu gostava de mulher”.

Em depoimento lembrou ainda ter se sentido ameaçada desde o dia anterior, quando viu o homem pela primeira vez, mas não soube dizer o nome dele, ou o carro que dirigia. O descreveu apenas como uma pessoa muito alta, negra e que se vestia todo de preto, até mesmo luvas de frio.

Fernanda não soube responder todas as perguntas feitas a ela, como a se o chuveiro estava ligado ou não no momento do assassinato. E apresentou detalhes que já foram desmentidos pela polícia, como a que o corpo foi imediatamente levado para o carro, já que segundo a perícia houve um “esgotamento” do sangue da vítima no banheiro.

Para o promotor Douglas Oldegardo Cavalheiro dos Santos, o que chama atenção é a quantidade de versões para o mesmo crime apresentadas pela ré, quatro segundo ele. “São quatro histórias que tem ponto vulnerável, um história difícil de firmar. O que você vê, é que quando o acusado é inocente ele é firme nas afirmações e até mesmo agressivo na produção de provas, e sustenta o que fala até o fim”, pontuou.

Conforme o promotor, todo o caso deve ser analisando novamente, mas algumas contradições já chamam atenção, como por exemplo, o chuveiro ligado ao não.

Fernanda durante a primeira audiência do caso, em fevereiro ((Foto: Kisie Ainoã)Fernanda durante a primeira audiência do caso, em fevereiro ((Foto: Kisie Ainoã)Clique na imagem para ampliar

“Você percebe que tem algo estranho quando o pé enrugado da vítima foi o ponto de partida para identificar que eles foram a um motel. Você não enruga a pele do pé simplesmente ao tocar a água, o que mostra que teve temposuficiente para isso acontecer. Até o momento não tem nenhum elemento forte para comprovar essa terceira pessoa, e que se existiu, foi um auxilio”, defende.

Detalhes como se Fernanda é ou não capaz de arrastar o corpo de Daniel sozinha, também devem ser estudados pela promotoria. “Quando a pessoa está tomada de adrenalina é capaz de fazer coisas que não faria em seu estado normal”.

Do outro lado, a defesa afirmou que a denúncia feita pelo MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) é completamente diferente das provas que já estão no processo. “O laudo aponta a presença de uma terceira pessoa realmente, a Fernanda não tem estrutura para ter arrastado o corpo sozinha. Têm alguns pontos diferentes, mas estamos com cartas na manga pro júri, esse não é o momento que vamos provar a defesa dela”.

Há uma semana Fernanda está no Estabelecimento Penal Feminino Carlos Alberto Jonas Giordano, em Corumbá, onde segundo a defesa está desamparada. “Lá é um sofrimento terrível, o cárcere lá está até sem água gelada, isso tudo atrapalha a defesa”.

O caso – Daniel foi morto no dia 19 de novembro em um motel no Jardim Noroeste. O corpo foi desovado às margens de uma estrada vicinal no Jardim Veraneiro.

Fernanda Aparecida da Silva Sylvério, de 28 anos, foi presa pelo assassinato de Daniel no dia 21 de novembro. Inicialmente, ela alegou à polícia que havia cometido o crime sozinha, motivada por vingança a um possível assédio cometido por ele à sua namorada. Dias depois ela mudou a versão, afirmou que ele foi morto por um desconhecido e que só assumiu o homicídio após ter sido ameaçada.

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